CAPA DO MÊS:
PIERRE AULAS 
O Diretor Olfativo por trás da marca francesa O.U.i
por: Sergio Oliver

Nesta edição, a Revista Olfato revela um pouco sobre um expert da perfumaria internacional: o Diretor Olfativo Pierre Aulas.

Quem não conhece, por exemplo, Alien de Thierry Mugler, Chloé by Chloé, Wanted de Azzarro? Pierre é o “nariz” por trás dessas criações. Grande parte dos brasileiros já provou, em algum momento, uma de suas fragrâncias .

Além de seu escritório que busca auxiliar grandes empresas a criar e lançar novos perfumes no mercado, Pierre tem a sua marca de perfumes de nicho, a Egofacto, com fragrâncias escolhidas pelo próprio diretor olfativo.

E, nesse semestre, traz para o Brasil uma nova marca para somar ao grupo O Boticário, a O.U.i, com perfumes criados diretamente na França, visando unir a experiência francesa para criar e produzir fragrâncias de alta qualidade e o a idiossincrasia do brasileiro.

Apreciem, sem moderação, cada linha desta entrevista maravilhosa e boa leitura!

Como começou o seu relacionamento com as fragrâncias e em que ponto da sua vida você descobriu que queria trabalhar com perfumes?
Eu sou uma espécie de OVNI na indústria de perfumes. Digo isso porque meu pai não era um perfumista, nem meu tio, nem meu primo. Na verdade, depois de concluir minha graduação em Administração, comecei a trabalhar como gerente de marketing. Eu tive que me encontrar com perfumistas para produzir um perfume para o meu produto. Uma vez, um deles descobriu que eu tinha um nariz com mais capacidades do que o normal e me propôs juntar-me à sua empresa. Eu aceitei o desafio! Então, seguiram-se 5 anos de treinamento em Grasse.
Conte aos nossos leitores como funciona o trabalho de um Diretor Olfativo.
É bem específico, porque eu lanço mão de meus treinamentos duplos. Um em marketing e um no olfativo. Eu sou uma espécie de elo entre as marcas e os narizes porque falo as duas línguas. Eu ajudo as marcas a desenvolverem melhores fragrâncias e ajudo o “nariz” (perfumista) a desenvolver melhor seu produto.

Como começou sua carreira e qual foi seu primeiro projeto?
Meu primeiro projeto como Diretor Artístico Olfativo começou em 2001 com um contrato com Azzaro e Mugler. Durante 20 anos, gerenciei a criação de todas as fragrâncias que foram lançadas sob essas marcas. Meu primeiro (e grande) projeto foi para desenvolver Alien, de Thierry Mugler.

Você já ajudou a desenvolver fragrâncias para várias marcas renomadas como Thierry Mugler, Azzaro, Swarovski, Chloé, Balenciaga, entre outras. Qual foi o projeto mais desafiador e por quê?
Cada novo projeto é um desafio, mas devo dizer que um dos mais desafiadores foi provavelmente Alien, de Thierry Mugler, porque foi o segundo pilar da marca, e o primeiro, Angel, foi muito criativo e bem sucedido. Eu estou orgulhoso porque, atualmente, Alien está entre as 20 melhores vendas do mundo.
Em relação aos perfumes que você ajudou a desenvolver, qual deles mais o impressionou, e por quê?
Gosto particularmente de Chloé by Chloé porque, quando trabalhamos nela, queríamos usar uma flor muito comum em perfumaria, mas a ideia era reinventá-la para uma fragrância que misturasse toques de inocência e sexualidade. Eu acredito que conseguimos evitar que o perfume caísse na monotonia que a rosa, enquanto matéria-prima, possa inspirar algumas vezes.
Em suas redes sociais, sempre vemos você bem carinhoso com gatos e em contato com a natureza. Esses elementos também são fonte de inspiração para criar um perfume?
Eu amo meu gato com certeza, mas eu não posso dizer que seja uma fonte de inspiração olfativa! Ainda mais agora que ele está mais velho e não cheira tão bem todos os dias (risos). Quanto ao meu contato com a natureza, tenho a sorte de ter uma casa de campo em Borgonha, na França, com um grande jardim. Eu amo jardinagem e cultivo meus próprios vegetais e frutas porque, para mim, isso ajuda para o meu próprio equilíbrio. Eu me sinto bem quando estou perto da natureza. Às vezes, encontro inspiração em um novo perfume surpreendente do jardim. Por exemplo, recentemente tentei reconstituir as facetas amargas e verdes das urtigas em uma fragrância. Mas a natureza não é minha única fonte de inspiração.
Você tem a sua própria marca de perfumes de nicho, EGOFACTO. Como você teve a ideia de fundar sua própria marca? Qual foi a sua inspiração para criá-la e como são as fragrâncias?
Na verdade, tudo começou com uma frustração. Eu desenvolvi muitas fragrâncias, mas apenas algumas foram eleitas a ir para um frasco. E nem sempre o perfume escolhido pela marca é o meu favorito. Por isso, decidi criar a minha própria marca para lançá-los! Quanto ao conceito, é bastante simples. Eu acredito que uma fragrância diz muito sobre você, como um corte de cabelo ou uma maquiagem. Então decidi criar não 7 perfumes, mas 7 personalidades.
Você é o Diretor Olfativo da marca francesa de perfumaria de nicho, a O.U.i Paris, que pertence ao Grupo O Boticário aqui no Brasil. Como você está se sentindo à frente desse projeto?
Fiquei muito orgulhoso de ser escolhido para essa parceria, porque sei que fomos vários profissionais a competir pela direção do projeto. A forma como a escolha foi feita foi bastante incomum. Um dos diretores do Grupo Boticário veio a Paris e organizou uma espécie de encontro rápido. No final do dia, fui o sortudo e aqui estou.
O.U.i Paris levou dois anos para ser desenvolvida. Você só participou da escolha das fragrâncias ou em todo o projeto em si, incluindo a escolha de frascos e embalagens? Você poderia compartilhar conosco sua experiência?
Eu era responsável pelo desenvolvimento da fragrância e pela coordenação global, mas, com relação às embalagens, Thierry Debashmakoff é quem assina o design geral para O.U.i. Esse modelo de desenvolvimento garantiu que a essência do estilo de vida francesa se refletisse na marca. O.U.i traz tradição para a perícia e tecnologia do Grupo O Boticário. A experiência foi realmente ótima. Foi a primeira vez que tive que lidar com brasileiros e devo dizer que foi divertido.
Conte-nos um pouco sobre o conceito da O.U.i. O que há de especial nesse projeto para fazer a diferença em um mercado tão competitivo?
O conceito que tínhamos era claro. Desenvolver uma gama de fragrâncias finas inspiradas e produzidas pelo saber-fazer francês. Adicionar um toque da França seria uma vantagem. O.U.i também é um nome perfeito porque encapsula toda a positividade do nosso projeto: significa “Sim” em francês. Sim à vida, Sim ao amor, Sim à individualidade e ao autocuidado sem qualquer culpa.
Como foi trabalhar no projeto O.U.i Paris ao lado de grandes perfumistas, como Amandine Clerc-Marie, Nathalie Lorson, Olivier Cresp, Fabrice Pellegrin e o renomado designer Thierry De Baschmakoff? Como foi essa experiência? Você já trabalhou com eles em algum outro projeto?
A primeira coisa que tive que fazer como Diretor Olfativo foi criar uma equipe de perfumistas vencedores. Por isso escolhi 4 perfumistas seniores muito talentosos que conheço bem. Eu já havia desenvolvido muitas fragrâncias com eles e sabíamos como nos comunicar e entender rapidamente. Por exemplo, desenvolvi Chloé, de Chloé, e Illusione, da Bottega Veneta, com Amandine, Wanted Girl by Night, por Azzaro, com Nathalie, Angel Rose, de Mugler, e Noa, de Cacharel com Olivier, Wanted, por Azzaro, com Fabrice. Então, como era meu primeiro projeto brasileiro, tive que integrar o gosto brasileiro com o toque francês. Nem sempre é fácil. Mulheres brasileiras amam muito frutas, geléias de frutas, gourmandize, enquanto os homens brasileiros se sentem à vontade com toques de fougere e fortes acordes masculinos!
Vivemos tempos difíceis com a pandemia mundial. Na sua opinião, o que mudou no mercado de perfumaria e o que podemos esperar para o futuro?
A pandemia mudou primeiro o perfil do varejo. Na verdade, a compra pela Internet deu um salto enorme. É por isso que O.U.i. já nasceu internacional e digital. No Brasil, A O.U.i está disponível por meio dos sites Beleza na Web e Beauty Box, além de seu próprio e-commerce (https://www.ouiparis.com). Na França, O.U.i é encontrada no site fr.ouiparis.com. O.U.i chega para complementar a oferta de produtos do grupo O Boticário, que está entre os líderes no mercado brasileiro de perfumaria e trabalha com uma linha completa de produtos de beleza e perfumes. Eu acredito que as pessoas querem mais diversão e leveza. É por isso que a O.U.i com o seu conceito de positividade também está bem alinhado com isso. Para o futuro, podemos esperar que as pessoas voltem às lojas e perfumarias e tenham prazer em ter felicidade com perfumes.
Que conselho você daria a alguém que, inspirado por sua entrevista, queira se tornar um diretor de criação e por onde começar?
Seja criativo, ousado, corajoso, trabalhe muito e seja tão bom em marketing quanto em conhecimento olfativo.
Que perfume você usa? Caso você não possa falar sobre isso, você poderia dizer que tipo de fragrância ou família olfativa você mais gosta?
Eu não tenho tempo para usar uma fragrância específica, porque eu uso diariamente os últimos testes para avaliar seu desempenho na pele e ver o que deve ser retrabalhado. Só me lembro de quais perfumes eu gostava antes de trabalhar na área. Gostava particularmente das notas de couro, porque usei Antaeus, de Chanel, Aramis, de Aramis, Macassar, de Rochas.
Você pode nos revelar quais são as novidades no mundo dos perfumes que podemos esperar para este ano?
Eu não posso … segredos. Mas aqui estão alguns grandes perfumes internacionais nos quais trabalhei: Chloe, por Chloe, Alien, por Thierry Mugler, Perfect, por Marc Jacob, Wanted, por Azzaro (versão masculina), Azzaro pour Homme Cologne Intense, Tiffany, by Tiffany, Match Point, por Lacoste.
Foto capa: divulgação O.U.i. Paris (todas as fotos utilizadas na matéria foram encaminhadas pela assessoria da marca O.U.i Paris)
Entrevista: Sergio Oliver
Publisher e Diretor Criativo: Sergio Oliver
Supervisão de texto: André Terto
Arte gráfica e diagramação: Danni Chris