CAPA DO MÊS:
EAUX PARFUMS – LEONORA ROCHA LIMA 
Perfumes: identidade e emoções
por: Sérgio Oliver

A marca Eaux Parfums traduz beleza, qualidade, elegância em sua linha e muito bom gosto em suas embalagens. Quando temos contato com os produtos dessa marca, imediatamente percebemos o carinho com que se apresentam as inebriantes fragrâncias de sua coleção. Sua fundadora, CEO e Diretora Criativa Leonora Rocha Lima é quem cuida pessoalmente de todos os detalhes de sua marca.

Nessa entrevista exclusiva, a empresária nos conta tudo sobre essa perfumaria de nicho brasileira.

De onde vem a sua relação com os cheiros e com os perfumes?
Nossa… Acho que sempre fui uma menina de nariz esperto e curioso. Cheirava tudo o que via pela frente. Roupas, livros, comidas, ingredientes, sapatos novos, flores, plantas e, é claro, perfumes. Minha mãe falava: “Menina! Pra quê cheirar tudo?”

Somos uma família de 3 irmãs vaidosas e, quando éramos jovens, eu devia ter uns 12 anos, minha mãe, que não é perfumista, resolveu fazer um perfume para usarmos. Era uma mistura amadora e despretensiosa, porém muito bem sucedida, de lavanda com almíscar. Virou o cheiro da família. Éramos reconhecidas pelo cheiro. Até meu pai usava essa colônia que acalmava, “limpava” e nos perfumava de forma leve e fresca.

Então, criei, desde cedo, o importante hábito de me perfumar. Jamais ia para o colégio sem perfume, e depois, jamais saía para encontrar com meu namorado sem me perfumar. Estar cheirosa sempre foi fundamental e é claro que também passeava o nariz pelos perfumes franceses da minha mãe. Quando a ocasião era uma festa, não hesitava em borrifá-los para “causar”.

Qual a sua formação profissional? Em que momento decidiu ingressar no mundo dos perfumes?
Comecei estudando Artes Visuais na Universidade Federal de Goiás e, em seguida, parti para Paris buscando aprender o francês. Era inevitável que eu me apaixonasse por aquela cidade e resolvi ficar mais tempo para estudar arquitetura e design e, posteriormente, moda no LISAA (L’Institut Supérieur des Arts Appliqués).

Quando voltei de Paris, criei uma marca e loja de “bijoux” exclusivas, a DONACHIC. Junto com minha mãe e irmãs, desenhávamos coleções inspiradas em mulheres e o resultado era belíssimo. Tenho muito orgulho da DONACHIC. Frida Kahlo, Madame de Pompadour, Sarah Bernhardt, Sissi e Yolanda Penteado foram algumas das personalidades homenageadas. Tudo sobre a época era pesquisado para desenharmos as coleções. Design de mobiliário, objetos, pintura, escultura, música, teatro, cinema. Todos os desenhos eram exclusivos da marca e não produzíamos nenhuma peça igual a outra. Era um trabalho muito especial e totalmente atemporal. Era pura criação e inspiração.

Para a DONACHIC, produzi uma lavanda similar a que a minha mãe fazia e usávamos para perfumar a loja e como colônia. Era um sucesso aquele cheiro. As clientes não ficavam sem. Foram 9 anos de loja, até que resolvi encerrar para respirar novos ares.

Em dezembro de 2013, já casada e com meu filho Davi com 1 ano e meio, resolvi voltar a produzir a colônia. Sentia falta daquele cheiro e era uma forma de fazer algo novo. Estava buscando novos caminhos profissionais e o perfume poderia ser uma boa ideia. E foi!

Como surgiu a ideia de ter sua própria marca?
Resolvi produzir frascos de 120ml da colônia e entendi que precisaria de um novo nome, uma nova fórmula e um novo conceito visual. Assim surgiu o nome EAU de LEONORA e toda uma identidade visual criada por Fábio Melo, amigo pernambucano, artista gráfico e designer. Eu mesma manipulei, envasei, rotulei e embalei os 150 frascos e foi bacanérrimo! Estava empolgada com o novo projeto. Em março de 2015, criei a empresa formalmente, produzi um novo lote do perfume e comecei a estudar perfumaria na Paralela Escola Olfativa em SP. Quando entendi o que poderia fazer com a perfumaria, me apaixonei e nunca mais parei. Nem de estudar, nem de criar, nem de trabalhar.

Em junho de 2015 lancei EAU de DAVI, com o apoio olfativo do perfumista francês Jean-Luc Morineau. Eau de Davi é meu perfume mais carinhoso e mais afetivo.

Sua primeira fragrância foi a Eau de Leonora. Conte para os nossos leitores sobre essa criação e o que ela representa para você.
EAU de LEONORA é o meu cheiro, minha segunda pele. Um perfume feito para ser leve, para não incomodar. Discreto, agradável, sutil e, ao mesmo tempo, sensual. Lavanda e musk, nada mais. Minimalista e redondo. Quando quis produzí-lo, o meu desejo era de fazer as pessoas sentirem a mesma sensação boa que sinto ao borrifá-lo. Ele refresca, acalma, traz uma sensação de banho tomado e de leveza. Uma fragrância sem pretensões, mas que ganhou muitos narizes apaixonados por lavandas e perfumes leves. Até mesmo quem não gosta ou não usa perfumes, costuma gostar de Eau de Leonora.

Para mim, Eau de Leonora representa o início de tudo. É sem dúvida o meu perfume mais importante, que além de levar o meu nome, carrega o DNA da marca. Uma verdadeira assinatura olfativa que está presente em várias criações da EAUX Parfums.

Depois de seu primeiro perfume, veio uma sequência de lançamentos homenageando seus familiares. Poderia nos falar sobre cada um?
Quando comecei a estudar, percebi que as possibilidades olfativas eram infinitas e sempre tive em mente uma perfumaria bastante cuidadosa e exclusiva. Uma perfumaria de nicho. Queria contar histórias através dos cheiros. E depois da minha história, a mais importante era, sem dúvida, a história do meu filho Davi.

Davi estava com quase 3 anos quando comecei a “brifar” ensaios com Morineau, que entendeu perfeitamente a importância afetiva daquele perfume. Eu não queria algo para bebês, mas para “filhos” ou “filhas” pequenos. Queria um cheiro de “filho no colo”, como o rótulo do perfume mesmo diz. Queria sentir a cabecinha do Davi cheirosa quando eu o beijasse, queria carinho e proteção. Então, em meus cafés da manhã, Davi, sentadinho no meu colo cheirava à lavanda e mergulhava o dedinho no mel. Essa foi a principal inspiração para esta fragrância que depois de 11 ensaios enviados por M. Morineau, foi aprovada com louvor.

Em seguida, quis homenagear meu marido Luiz com algo mais masculino e viril. Eau de Luiz, que também teve o suporte de Monsieur Morineau, possui uma elegância e um frescor muito originais. Lavanda, menta e vétiver. Eu a considero uma fragrância incansável. Carrega certa sobriedade, consegue ter leveza, além de ser bastante atraente. Os homens adoram e as mulheres mais ainda! É uma das minhas fragrâncias mais vendidas.

Para meu pai, criei o EAU du PAPA. Um fougère com bastante tangerina, lavanda, gerânio, fava tonta e musgo de carvalho. Foi pensando em toda a personalidade e nos hábitos do meu pai que nasceu Eau du Papa. Jornalista, elegante, clássico, intelectual e culto, ele gosta de ler, tomar whisky ouvindo jazz ou ópera, fumar charutos e escrever. Adora perfumes cítricos com notas marcantes. Nada poderia ser mais a cara dele. Quando ele chega todo perfumado, eu penso: “acertei nesse cheiro!” Parece até que o foi cheiro que o escolheu.

Minha mãe Regina não poderia ficar de fora. Depois de muitos ensaios, chegou Maman Fleur, um floral com notas verdes muito feminino e confortável. A história desse perfume é a seguinte: eu tinha entre 14 e 15 anos e lembro de quando minha mãe se aprontava para as festas à noite. Meias finas, pretinho básico, escarpins e, para finalizar, borrifadas de seu perfume francês favorito, que, na época, era Dioríssimo ou Paris, de YSL. Eu olhava aquela cena e a achava a mulher mais chique e cheirosa do mundo! Em Maman Fleur trabalhamos notas de limão siciliano, manjericão, narciso, mimosa, figo, copaíba, cedro e sândalo. Eu adoro dormir com esse perfume. Essa fragrância me traz muito conforto. Tem cheiro de colo de mãe, e Davi adora!

Ainda este ano, lançarei EAU de LILI, uma homenagem à minha sobrinha Lisa. Estou há pelo menos 2 anos trabalhando nessa fragrância e agora, finalmente, a aprovei. E a própria Lili também, claro. É um perfume para flanar. Como uma borboleta passeando por um jardim de flores e frutas. Alegre, solar e “esperto”, Eau de Lili já conquistou totalmente meu coração e tenho convivido com ele diariamente. Uma delicinha! Queria um perfume cítrico com notas florais, mas um cítrico diferente. Então busquei o yuzu como nota de saída e trabalhamos a lavanda, as flores de cerejeira e pêssego, além do sândalo para aquecer. Espero que Eau de Lili conquiste muitos narizes felizes.

Você participa de todo o desenvolvimento da sua linha, desde a escolha da fragrâncias, frascos e embalagens? Como funciona esse processo?
Sim! Absolutamente tudo o que é criado pela EAUX parfums passa pelo meu nariz e por meus olhos.

Primeiro, vem a história, depois o cheiro. Quando envio os briefings para os perfumistas procuro falar de forma expressiva e detalhada sobre a inspiração, as notas que gostaria de trabalhar, o “mood” da fragrância, a situação, a música. Como perfume é algo bastante subjetivo, acho importante contar uma história para que se possa imaginar a situação e assim chegarmos ao cheiro, apesar de concordar como Jean-Claude Ellena quando ele diz: ”Um perfume não precisa necessariamente de um tema, um conceito, se for belo, ele existe por si mesmo.” Por isso, às vezes, algumas histórias vêm depois do perfume pronto. E isso também é lindo!

Os ensaios aprovados entram para o nosso cardápio exclusivo, podendo ser escolhidos para projetos da linha EAUX Parfums ou para projetos de consultoria olfativa, onde desenvolvemos fragrâncias para outras marcas.

Escolho pessoalmente todos os frascos, rótulos e embalagens da linha EAUX Parfums e conto com o talento de dois designers para me ajudarem na parte visual e gráfica.

Normalmente, buscamos uma estética mais limpa, pois o que realmente nos importa é a fragrância. Porém beleza e bom gosto também são fundamentais para que o produto tenha a cara da marca.

O que a inspira na hora de criar uma fragrância? Qual a sua motivação nesse momento?
Tanta coisa me inspira para a minha própria linha, principalmente, as pessoas com quem convivo. É muito interessante relacionar o perfume à pessoa. Para cada personalidade, um cheiro, uma estética olfativa, um ingrediente principal.

Nesse momento, estou bastante envolvida com Eau de Lili. Essa fragrância demorou a sair porque eu não encontrava o caminho dela. Lisa, minha sobrinha, a homenageada, já estava ficando nervosa. (Risos) Fazíamos tinturas com flores e ervas do meu jardim. Ela escolhia as plantas, as cheirava e a que gostava, colocava em um pote de vidro. Eu colocava álcool e via no que dava. Coisas bem interessantes saíam, mas faltava muito ainda.

Então, pedi alguns ensaios com Yuzu, porque adoro a esperteza dessa nota cítrico floral. Ao mesmo tempo, precisávamos de flores delicadas de lavanda para trazer a assinatura EAUX Parfums e de uma madeira para sustentar. Eu adoro o resultado. Tenho usado essa fragrância constantemente desde que ficou pronta, e tem sido muito agradável. Davi foi mais além. Em um único frasco, misturou Eau de Davi com Eau de Lili e falou com muita convicção que daria certo. E deu! Hoje, ele usa somente a mistura. As fragrâncias não brigam como os primos. Risos.

Agora estou envolvida com a fragrância que lançarei no final deste ano. Sempre lanço algo que represente algum desejo. Para que boas energias e pensamentos venham junto com as borrifadas. Também teremos um perfume para o cabelo, o Jubá (uma referência à juba do leão). Um cheiro muito agradável de se sentir nos cabelos.

Quais as matérias-primas que você mais ama e por quê?
A lavanda é, sem dúvida, a matéria-prima que mais me representa. Gosto de sua versatilidade, da leveza, do frescor, da rusticidade misturada à delicadeza. Gosto do caráter sem gênero. Em quase todas as fragrâncias da EAUX Parfums trabalhamos notas de lavanda. É uma espécie de assinatura olfativa da marca. O mais interessantes são as diversas possibilidades de misturas. Os resultados são muito singulares. Além da lavanda, néroli, yuzu, patchouli, vétiver, tuberosa, magnólia, fava tonka e tantos outros.

O que o consumidor pode encontrar no portfólio de produtos de sua marca Eaux Parfums, além dos perfumes?
Além de perfumes para corpo e ambiente, temos velas e um belo incenso. Sempre gostei de incensos, mas só tinha afinidade olfativa pelos franceses e japoneses. Durante a pandemia, resolvi fazer um curso de incensaria para entender sobre a história e técnica desse elemento milenar e, então, resolvi fazer um incenso de alta qualidade, com ingredientes naturais e algumas notas sintéticas para ajustá-lo à técnica de incensaria japonesa. O resultado ficou muito sofisticado e agradável. Foi interessante ver a reação das pessoas ao sentirem o “Nouvelle Vague”. Diziam que sentiam algo diferente do que se esperava como incenso. Aquele cheiro meio “hippie” ou de loja esotérica… Não é nada disso esse incenso. Nota-se imediatamente que se trata de algo mais elaborado. Mantenho o ritual de acender um incenso todos os dias na hora da minha prática de yoga e ele, sem dúvida, me ajuda a me conectar comigo mesma.

A Eaux Parfums também oferece serviços personalizados. Quais são eles e como funciona cada?
Somos, além de uma marca brasileira de perfumes de nicho, uma empresa de consultoria olfativa. Desenvolvemos identidades olfativas exclusivas para marcas, eventos, shoppings e todo tipo de projeto em que é possível ter “um cheiro”. Desde 2014, temos trabalhado a comunicação através do olfato, desenvolvendo marcas olfativas únicas, criadas através de briefings. Com esse trabalho, temos construído uma história cuidadosa, com um portfólio extenso com fragrâncias de caminhos variados, podendo atender diversos tipos de projetos.

Para matar a curiosidade de nossas leitoras, qual é o seu segredinho de beleza? O que você faz para manter a sua forma física?
Sou cuidadosa com a minha alimentação. A única carne que como é peixe, adoro chás, matchá e todo tipo de comida saudável. Há mais de 4 anos, pratico Ashtanga Yoga, que é uma modalidade bastante intensa do yoga e que me faz muito bem interna e externamente. Tenho a sensação de que yoga me cura e, apesar de ser uma prática difícil em que exige muita disciplina, acho que sou melhor com ela. Não sou radical em relação à nada. Gosto de preparar meus drinques perfumados, comer um pastelzinho de vez em quando e adoro um bom vinho branco. Bebo muita água diariamente e sou adepta à jejum intermitente.

Sua marca é vendida principalmente em lojas de perfumes importados. Qual o diferencial que a Eaux Parfums tem para se destacar nesse setor tão competitivo?
Por ser uma marca de nicho, com perfumes produzidos em pequenos lotes, a EAUX Parfums conquista um público que prefere exclusividade. As histórias que são contadas junto a cada fragrância também sensibilizam esse público que quer algo além de um cheiro bom. Usar um perfume e não encontrar outra pessoa usando o mesmo na rua. Conhecer as notas daquele perfume, a inspiração por detrás dele, as imagens pelo Instagram… Apresentamos todo um “life style” voltado para o olfato e suas emoções. Além disso, somos uma das primeiras marcas de nicho do Brasil e temos a capacidade de criar cheiros, e jamais copiar o que já existe por aí. O nosso barato é criar!

Vivemos um momento muito difícil com pandemia, mas agora tudo começa a voltar ao seu normal. Como foram esses dois últimos anos para a sua marca e o que você espera e pode nos contar de novidades para o próximo ano?
A pandemia foi motivo para nos reinventarmos e com a EAUX Parfums não foi diferente. Investimos em melhorias no site, em tecnologia e tive vontade de me comunicar de forma mais ampla através das “lives”. Foram várias entrevistas interessantes com diversas personalidades tratando de assuntos totalmente variados. Psicologia, yoga, pilates, nutrição, dança, teatro, acupuntura, beleza e muitos outros temas foram abordados. Além disso, tive a honra de poder entrevistar Costanza Pascolato e Miguel Falabella que nos presentearam com momentos lindos e divertidos.

Não parei com as “lives”, mas agora já não faço mais toda semana como antes. Exige preparo, tempo e dedicação, e a minha vida é bastante corrida. Então, farei sempre que surgir uma oportunidade interessante.

Apesar das dificuldades de um ano atípico e trágico, tivemos saldo positivo.

Para 2022, temos novas fragrâncias a caminho e cuidaremos de projetos grandes de consultoria olfativa que tiveram início por agora. O mundo tem percebido a importância do olfato e como ele nos guia. A importância de uma marca ou um lugar possuírem um cheiro e o quanto é positivo esse detalhe que, na verdade, não é um detalhe, mas um elemento fundamental, o perfume.

Fotos: Luiz Nogueira
Entrevista: Sérgio Oliver
Publisher e Diretor Criativo: Sérgio Oliver
Supervisão de texto: André Terto
Arte gráfica e diagramação: Danni Chris