CAPA DO MÊS: 
CONSUELO BLOCKER
A beleza e o talento da mulher brasileira
por: Sérgio Oliver

Quando pensamos na mulher brasileira, a primeira imagem que nos vem à mente é a de mulheres lindas, inteligentes, empoderadas, focadas em tudo o que as faz guerreiras por natureza. E, principalmente, de bem com a vida. Essas características se encaixam muito bem com a nossa entrevistada Consuelo Blocker, uma representante à altura das mulheres brasileiras. Nessa entrevista exclusiva, ela nos conta tudo sobre a sua trajetória e sua paixão pelos perfumes.

Você morou fora do país e se formou em relações internacionais. Como foi essa experiência e por quanto tempo ficou fora do Brasil?
Eu saí do Brasil com 18 anos. Estudei sempre em escolas americanas. Aos 18 anos fui para a Brown University, nos EUA. Fiz Relações Internacionais. Depois, fui trabalhar na Bloomingdale’s em Manhattan. O pai dos meus filhos me pediu para ir à Itália e casar com ele. Tive que pensar um pouco, pois morar em Nova Iorque sempre foi meu sonho. Decidi. Fui à Florença com ele, onde estou há 32 anos, o que tem sido sensacional.

Também tenho descendência americana, então tenho um lado mais prático. Eu me encontrei nos EUA, me dei muito bem lá, tanto que demorou para eu me apaixonar pela Itália – demorou um bom tempo, na verdade. Hoje em dia, sou apaixonada por esse país e acho que é um dos melhores lugares do mundo para se viver. A Itália é linda, a luz é linda, a arquitetura é linda, as proporções são incríveis, o vinho nacional não é ruim (risos), a comida é deliciosa e, além de tudo, temos tempo para apreciar tudo isso. Aqui se respeita o tempo de trabalho, e temos sempre um mês de férias. Temos tempo para aproveitar o que tem de bonito na Itália.

Você também trabalhou com moda? Como foi esse momento?
Quanto à minha trajetória na moda, digamos que começou em casa: todo mundo era esteta, não só minha mãe e meu pai, como meus avós. Meu avô e meu pai eram impecáveis ao vestir-se com roupas feitas sob medida. Nossa governanta também não saia de casa sem um fio de pérolas no pescoço nem um laquê no cabelo. A estética era importante. Conversei com o “counselor” para decidir sobre o que eu iria fazer, pois eu gostava de moda tanto quanto de “business”. Então, ele me orientou a entrar no mercado de varejo, e foi o que eu fiz. Ingressei na Bloomingdale ‘s através de seu “Executive Training Program”. Comecei no departamento de designers no mesmo ano em que Donna Karan lançou sua linha! Quando vim para a Itália, trabalhei em um “Buying Office”, que são esses escritórios de “liaison”entre as marcas de luxo e as “duty frees”. Dali, eu me afastei para ter meus filhos e, logo em seguida, fui trabalhar como correspondente da Santaconstancia da Europa. Santaconstancia é a tecelagem de família por parte de minha mãe. E eu era uma trend hunter, uma buscadora de tendências aqui na Europa, e costumava acompanhar os desfiles de moda também para ver quais eram as tendências do momento. Essa foi a maior parte de meu percurso no universo da moda. Depois que comecei nas mídias sociais e criei um certo nome, também tive Colabs. Atualmente, eu faço Colab com duas marcas de roupa: Annexe e Angela Motta.

Você é filha de um dos grandes ícones da moda, Costanza Pascolato. Como é ser filha de uma das mulheres mais elegantes do nosso país? E o que de mais em comum você herdou da sua mãe?
É engraçado, né? Todo mundo me pergunta isso, e nunca sei o que responder, porque ela é minha mãe, mas também uma pessoa de sucesso por quem eu tenho muito respeito. Sem dúvida, para ela, a moda é muito importante. Ela é muito inteligente, muito intuitiva e perspicaz. Uma pessoa que gosta de compartilhar a sua sabedoria. Ser filha de Costanza é sempre estar em contato com tudo isto: esse talento, essa sabedoria e essa intuição.

Que pergunta impossível! Não sei se é em comum positivo ou negativo. Acho que o que eu possa ter em comum com a minha mãe é a força, foco e determinação para batalhar pelo que se deseja e os valores que ela me passou ao longo de toda a minha vida.

Como começou nas redes sociais? Em que momento percebeu que isso poderia virar uma profissão?
Eu sempre achei que as mídias sociais poderiam virar uma profissão, porque, quando você tem um universo de olhos virados para você e você ganha uma credibilidade, é lógico que você pode falar de produtos que você gosta e ser compensado por isso. E foi o que eu fiz. Agora, eu acho que a grande “sacada” foi quando o “stories” começou com o “Arraste aqui”. De repente, o Instagram virou “B2C” (“business-to-consumer”), uma linha muito mais direta ao consumidor final. Com um clique, você poderia comprar. Acho que essa foi a grande virada.
Você lançou um livro com sua irmã Alessandra Blocker. “O fio da trama”, que é um sucesso de vendas. Conte-nos um pouco sobre ele e o que os leitores vão encontrar em suas páginas?
“O fio da trama” é um livro maravilhoso! É uma obra de amor. A minha irmã Alessandra pegou os diários da minha avó depois de sua morte, encontrou vinte e cinco anos registrados por ela. Ela traduziu e transcreveu tudo para o computador. Ela leu atenciosamente e romanceou. Transformou esses cem anos de histórias em uma saga de três gerações de quatro mulheres, talvez cinco. Na primeira metade, conta a juventude da minha avó ao chegar ao Brasil, criar a “Santaconstancia” e até sua morte. Na segunda metade, entramos a Costanza, Alessandra e eu. Também cita sempre sobre a Blanche, nossa governanta. Relata a nossa trajetória, nossos sucessos e fragilidades. É um livro em que todas as mulheres encontram, em uma de nós, um pedaço para se relacionar. Tem fotos lindas. Um livro gostoso. Tem quinhentas páginas, mas todo mundo que o lê diz que quando está chegando ao fim começa a ler devagar porque não quer que termine.
Qual a sua relação com os cheiros ? De onde vem o seu gosto por perfumes?
Acho que a relação com o perfume é muito pessoal, de uma pessoa a outra. Eu sempre gostei e achei uma delicia! Também, trabalhando em loja de departamento a gente estava sempre exposto. Estava aqui me lembrando que, no primeiro andar da loja, sempre tinha lindas mulheres e homens borrifando todo mundo que passava. Minha mãe sempre usou perfumes muito gostosos, mas também escolhia um e o usava por décadas, assim também como a minha avó. Minha mãe já usou o “Joy” por muitos e muitos anos. Hoje em dia, ela usa o “Sisley”. Essa coisa das pessoas terem um cheiro sempre me marcou. Mas, não gosto de perfumes muito fortes. Acho deselegantes esses aromas que entram na narina e no cérebro. Esses que, quando você está almoçando, sente o cheiro da pessoa do seu lado ou do outro lado do salão, ou, quando você abraça alguém e fica aquele cheiro muito forte em cima de você, que não é o seu. Gosto de perfumes que não são um tapa, mas são um carinho.

Você é do tipo que tem apenas um perfume como assinatura ou prefere variar de acordo com a ocasião e com seu humor?
Eu sempre quis, a exemplo de minha mãe e minha avó, ter um cheiro só. Comecei com o “Halston Masculino”, nos anos 80. E hoje uso um “mix” diferente das séries “Beautiful Mind Series” ou “Escentric Molécules Series”.

Você já disse nas suas redes que seu perfume preferido é o Molécules One, de cuja curadoria no Brasil é da Espírito Bird. Como conheceu essa fragrância e o que ela tem de tão especial que fez você se apaixonar?
Eu encontrei o “Beautiful Mind Series” em uma loja, num fim de semana em Arezzo. Fui pesquisar sobre o “nariz” desse perfume maravilhoso, Geza Schön, e descobri os Escentric Molecules. Eu gosto do Molecule 01 porque traz o meu cheiro para fora por ser um feromônio sintético. Acho elegante. Acho muito moderno. Acho único, bem original e acho uma carícia e não um tapa.

Você considera o perfume uma forte arma de sedução? E por quê?
O perfume, sem dúvida, faz parte da sedução. Ele não seduz sozinho, ele pode intrigar. Eu fecho os olhos e tento imaginar quando eu estou escolhendo o perfume que vou usar: como as pessoas irão me ver quando sentirem esse cheiro. Assim, como o seu “look” em uma festa é o seu primeiro impacto quanto às outras pessoas, o perfume é aquilo que você deixa quando vai embora. Isso é incrivelmente sedutor, é a saudade que você deixa. Então, o perfume faz parte da sedução.
Você é uma mulher bonita. Qual o seu segredo de beleza? Como é a sua rotina de cuidados pessoais?
Primeiramente, Obrigada pelo elogio sobre eu ser uma mulher bonita. Minha beleza não tem um segredo. A gente tem que cuidar bem de si mesmo. Por mais que eu não seja apta a falar sobre isso, acredito que temos que dormir bem. Beber bastante água. Hoje, uso somente beleza limpa no rosto. Sempre tratei do meu rosto, desde os treze anos. Recomendo cuidados com o sol, mas eu adoro tomar sol (acho até que tenho sorte).
 

Ainda estamos vivendo momentos muito difíceis por causa da pandemia. Como você acha que estaremos depois dessa fase e qual o saldo positivo na sua opinião até agora pelo que passamos?
Depois dessa fase difícil da pandemia, acredito que muitos buscam a volta à normalidade, o que já está acontecendo. Muitas pessoas estão buscando os anos perdidos em viagens, em casamentos, em festas. Um saldo positivo que achei foi a aproximação. Muita gente teve que voltar a viver em casa, com os pais ou, como no meu caso, com os filhos. Como também no trabalho. Eu estava viajando demais e, com isso, todo mundo teve que parar. Eu gosto de não ter que viajar tanto quanto antes. Então, o positivo foi a melhora na proximidade entre as pessoas.

Qual conselho você daria para quem tivesse vontade de trabalhar profissionalmente com as redes sociais?
Para trabalhar com redes sociais, primeiro, você tem que considerar que é um trabalho. Então, você vai ter que por todo o seu esforço, toda a sua garra e o seu tempo. Eu trabalho nas minhas redes, pelo menos, 10 horas por dia. Estou sempre pensando no trabalho, então tem que ser levado com profissionalismo.

Segundo, é você encontrar o que você tem a dizer que seja diferente. Se você for fazer algo que já estão fazendo, eles já estão em vantagem. Pensar de que forma você pode mostrar algo até banal de um jeito diferente e ajudar os outros nisso. Pode ser algo emocional ou prático. Encontrar seu talento único, diferente, o seu diferencial.

Em terceiro lugar, procurar plataformas alternativas. Óbvio que você precisa ter uma presença no Instagram, Facebook e Youtube, mas veja o que está chegando de novo, onde você cabe melhor, se você pode fazer uma combinação de tudo isso. Hoje está difícil crescer nas redes sociais, então acho isso importante.

Fotos: Acervo pessoal Consuelo Blocker
Publisher e Diretor Criativo: Sérgio Oliver
Supervisão de texto: André Terto
Arte gráfica e diagramação: Danni Chris